
Depois das Mc's Feiticeiras e Tiazinha os funks deram a voz de liberdade das mais abastadas... e elas não se sentiram à vontade com os títulos de abastadas e cheinhas, rasgaram o vestido e o verbo e assumiram: sou fofinha e gostosa! Vozes de um tempo de liberdade de expressão e auto-afirmação(???).
Cada época, século, década é marcada por um estilo, personalidades e seus caracteres... estamos vivendo dias de mistura, dias de EU próprio. Um grito de liberdade e independência. Depois da moda self-service, da liberdade da ditadura do estilista, o grito da liberdade vinha sendo dado desde os anos oitenta, com o fechamento de ciclos importantes, de afirmações idealistas em ditaduras, quedas de muros e etc. Com esse novo ideal, veio o culto ao corpo e as academias foram eram a nova onda. Corpos exibidos, a moda por sua vez ajudava, agora a cheinha não tinha vez. Ou assumia ou (as)sumia. Passado tempos, a ousadia e a liberdade foram sendo
cada vez mais cobiçadas. O ser humano se expos e gostou disso e quis experimentar mais. E quando umas gordinhas começaram a ser cutucadas e resolveram que não dava mais para ficar dentro do armário. Outras tentaram se esconder e foram pegas entre o armário e a cozinha. Então é dado vez a esse bullying que é "velado". Assumidamente gostosas, roliças, gordinhas, elas foram cortejadas pelo cinema, e foram avançando até o plus size... que mexeu com nomes grandes e gente durona do ramo da moda - leia-se até alta-costura! (Lagerfeld, que rejeita seu passado pesado e assume sua postura em relação ao (bio)tipo louvando a magreza!). Até que grifes do mercado americano resolveram dar voz a elas sim; voz, corpo e glamour! Mas ainda não estavam satisfeitas. Estavam maquiadas em roupas sensuais, exóticas, lascas, litras e detalhes que disfarçassem o exesso de peso, ainda desconfortável para elas em certas ocasiões e olhares. Se tudo isso socialmente é visto e exposto em capas de revistas, o funk com sua marginalidade e fama de desbocado agora dá voz em forma cômica às que não tem vergonha de dizer: gostosa
não, roliça não - eu sou gordinha! ADORO COMER!!!
- Me leva no McDonalds? - é assim que o 'Mc Mestre do nada' brinca com a sua versão em cima do original de outro MC (Saed), originalmente "Que é isso novinha?". Há quem torça o nariz para o funk. Muitos se assombraram ao me ouvir dizendo que estava ouvindo funk, e eu escrevia avidamente, enquanto refletia na circunstância. O quanto há de brincadeira e o quanto há de verdade na engraçada letra do 'Mc Mestre do nada' em levar a diante esse desconforto das mulheres acima do peso e assumir que gostam mesmo de comer! Já não é a primeira letra cantada sobre comida X peso. Tati Quebra-barraco é um exemplo de funqueira que já cantou sobre essas desventuras, valorizando sua gostosura entre outros. E não é tão grande a diferença, em tamanho, do que o funk abraça entre suas musas que outrora foram mulherões turbinadas em academias então passaram para mulheres melancia, melão, carne, filé... sempre aumentando aqui e ali. Seria essa a vez de um novo tamanho? Que me desculpem as magrinhas e as novas
gostosas, mas se as gordinhas vierem, elas virão com TUDO! Liberação é sempre forte em resposta a anos de escárnio e deboche, é uma represália. Vindo, estarão mais abusadas e saturadas de tudo que sofreram. Então apertem seus cintos, porque elas estão soltando tudo... e se for desta vez, vão soltar mais que corsets e pences.
Aí, não quero nem estar perto pra ver...
