quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Só a bailarina que não tem...


Quantas vezes se quizeram homenagear uma bailarina com a canção de Chico Buarque e Edu Lobo: "A CIRANDA DA BAILARINA". Muitas vezes em homenagens, outras vezes em coreografias de festivais e tantas outras assimiladas pelos que dançam...
Uma vez me perguntaram com um certo ar de indignação porque "só a bailarina que não tem? Ela é o quê... perfeita?". Eu pensei e nem me aprofundei muito, apenas dei com os ombros... talvez tenha até dito que sim. E de fato se não é, ela é obrigada a transparecer.
E exatamente isso que eu descobri na canção.
Ontem à noite, enquanto ensaiávamos o corpo de baile - que eu acho lindo! - de flocos de neve a ensaiadora disse:
- Bailarina não tem dor na perna, nem nos pés, não tem unha encravada, não tem dor de barriga, não fica doente, nem tem fome... dancem! Lindas!!! Sorriam!!! Vocês sabem? Vocês "não existem"... Dancem!!!
E foi assim que a ficha me caiu, enquanto eu entrava pra fazer a valsa das flores, a idéia não me saía da cabeça. Ela pode ter seus defeitos escondidos por trás dos tules, suas limitações por baixo dos tutus, seus truques para subir nas pontas e formar aquela figura etérea, tenaz e perfeita. Afinal essa é a idéia que se passa ao atravessar as cortinas num personagem vivaz ou sobrenatural, o ser perfeito que se é. Bailarina.
Lembro dos primeiros ballet's do período romântico onde os passos e os movimentos são etéreos e suaves, expressando a leveza e perfeição da figura dançante. Da mesma forma a visão obtida ao desenhar Taglione num ballet onde ela flutuava sobre uma flor. Passando toda idéia de leveza e candidez num arabesque. Foi sem dúvida a Era onde foi representado o ser mais elevado, muitas vezes alcançando o nivel espiritual, através da dança clássica.
A bailarina pode ter seus defeitos, suas manias, seus tiques, bater os pés no chão, esquecer de sorrir depois de horas e exaustivos ensaios, sem falar das bolhas nos pés, mas tudo isso fica na coxia quando ela entra em cena e se torna no alvo que desejou e leva o público crente, cativo, como um Romeu apaixonado a delirar em cada pirueta, harmoniosos port de bras ou num simples pas de bourré.
Lá fora ela tem tudo, mas ali, no seu palco, em seu santuário, onde ela pode tudo ela é perfeita! É só dela...

só a bailarina que não tem...

LITOGRAVURA: Marie Taglione em Le Sylphide

2 comentários:

Anônimo disse...

a bailarina tem sim!
rs

Natália Santucci disse...

eu era uma bailarina atípica, hehehe

beijooooo!!

(ah, eu vi o filme da Chanel, adoreeeeeei! e meu desfile é amanhã!!)