sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Hoje em dia...


É sempre de muito bom gosto expor arte e divulgar o que há de bom!
Minha tia me ligou esssa manhã me avisando que o programa HOJE EM DIA, Record, estava divulgando o trabalho do Bolshoi no Brasil e provavelmente conversaram algo, o que não tive oportunidade de ver. Mas o que pude pegar foi uma bailarina - depois coloco os créditos dela - dançando muito bem a variação do Cisne Branco do Lago dos Cisnes.
Tocavam trechos da música de Tchaikovsky e ela dançava num chão que era desapropriado para as sapatilhas. Era um chão de acrílico. Só quem dança sabe o quanto sofremos em festivais e teatros despreparados para adaptar a segurança de garantir uma boa execução. Ela venceu com muito cuidado, percebi o quão cauteloso e temido eram os fouetés para ela. E ela ainda estava na ponta, que diferente das outras sapatilhas deslizam mais, para os desavisados, as pontas são feitas de cetim, e sem atiderrapante. Daí você imagina o tamanho desleixo e despreparo da equipe em colocar uma convidada nesta situação. Mas ela, como todo bailarino vai lá e faz sua parte!
Ela vendeu muito bem seu peixe... mas outra coisa deixava a desejar... o apresentador que em breve iria entrar com um comercial de um café patrocinador, entrou no stúdio onde estavam um bailarino e o diretor do Bolshoi no Brasil, Pavel Kazarian, servindo-lhes um cafézinho e a camera tirou o foco da bailarina para registrar a entrega do cafézinho, algo revoltante! Voltou à bailarina que continuava a execução e então o mal educado do EDUARDO GUEDES fez o favor de começar a falar e tiraram outra vez o foco da dança. A música que estava no fim acabou enquanto ele falava e a Chrys Flores - super educada sempre! - tentou consertar a situação elogiando o trabalho da bailarina e agradecendo a ela honrando seu talento. Seguiu com o Pavel sendo educadíssimo e presenteando cada apresentador com uma blusa do Bolshoi e passando a reportagem em diante...
Tentar fazer uma coisa grande é muito bom! Divulgar a arte é maravilhoso e ainda mais abrir espaço pra uma que é tanto tida como elitizada e restrita! A intenção foi boa, mas o que ficou feito não foi por falta de estrutura, foi por falta de interesse e profissionalismo! A Record tem capacidade sim, e o programa também tem muita gente competente. O que não dá é fazer tudo de qualquer jeito, como se qualquer um fosse ver o que está sendo feito. Pontos negativos, parabéns pro Pavel pelo trabalho que o Bolshoi tem realizado aqui no Brasil e parabéns à bailarina que não consegui captar o nome...

E viva a arte, viva a dança, viva o ballet!

domingo, 15 de novembro de 2009

Ninguém sabe o duro que ela deu... I



"A moda passa e o estilo permanece..."
Gabrielle "Coco" Chanel

É assim que começa o trailer do filme que conta a história da maior lenda da moda no mundo. Gabrielle Bonheur Chanel, após perder sua mãe é deixada por seu pai num colégio interno com as irmãs. Após a saída do internato Chanel vai tentar a vida com o comércio e a arte... alguns anos mais tarde se envolve com um comerciante de tecidos (Etienne Balsan) e passa a viver com ele. Depois se envolve com um milionário (Arthur Boyle - Boy) que a adentra na alta sociedade pariense... depois disso Chanel passa a influenciar e a ser influenciada pela arte. Com grandes contatos e amigos, abre sua loja de alta costura e vem a se tornar um dos maiores ícones do mundo.

Curiosidade interessante é que o apelido COCO vem de uma das canções que ela costumava apresentar em seu número nos cabarés "Quem viu COCO no trocadero(Qui qu'a vu Coco dans l'Trocadéro)".

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Só a bailarina que não tem...


Quantas vezes se quizeram homenagear uma bailarina com a canção de Chico Buarque e Edu Lobo: "A CIRANDA DA BAILARINA". Muitas vezes em homenagens, outras vezes em coreografias de festivais e tantas outras assimiladas pelos que dançam...
Uma vez me perguntaram com um certo ar de indignação porque "só a bailarina que não tem? Ela é o quê... perfeita?". Eu pensei e nem me aprofundei muito, apenas dei com os ombros... talvez tenha até dito que sim. E de fato se não é, ela é obrigada a transparecer.
E exatamente isso que eu descobri na canção.
Ontem à noite, enquanto ensaiávamos o corpo de baile - que eu acho lindo! - de flocos de neve a ensaiadora disse:
- Bailarina não tem dor na perna, nem nos pés, não tem unha encravada, não tem dor de barriga, não fica doente, nem tem fome... dancem! Lindas!!! Sorriam!!! Vocês sabem? Vocês "não existem"... Dancem!!!
E foi assim que a ficha me caiu, enquanto eu entrava pra fazer a valsa das flores, a idéia não me saía da cabeça. Ela pode ter seus defeitos escondidos por trás dos tules, suas limitações por baixo dos tutus, seus truques para subir nas pontas e formar aquela figura etérea, tenaz e perfeita. Afinal essa é a idéia que se passa ao atravessar as cortinas num personagem vivaz ou sobrenatural, o ser perfeito que se é. Bailarina.
Lembro dos primeiros ballet's do período romântico onde os passos e os movimentos são etéreos e suaves, expressando a leveza e perfeição da figura dançante. Da mesma forma a visão obtida ao desenhar Taglione num ballet onde ela flutuava sobre uma flor. Passando toda idéia de leveza e candidez num arabesque. Foi sem dúvida a Era onde foi representado o ser mais elevado, muitas vezes alcançando o nivel espiritual, através da dança clássica.
A bailarina pode ter seus defeitos, suas manias, seus tiques, bater os pés no chão, esquecer de sorrir depois de horas e exaustivos ensaios, sem falar das bolhas nos pés, mas tudo isso fica na coxia quando ela entra em cena e se torna no alvo que desejou e leva o público crente, cativo, como um Romeu apaixonado a delirar em cada pirueta, harmoniosos port de bras ou num simples pas de bourré.
Lá fora ela tem tudo, mas ali, no seu palco, em seu santuário, onde ela pode tudo ela é perfeita! É só dela...

só a bailarina que não tem...

LITOGRAVURA: Marie Taglione em Le Sylphide