sexta-feira, 31 de março de 2017

personificação ou prosopopéia

nos deitávamos sob as estrelas
ou eram elas que se deleitavam sobre nós?
ficávamos juntos, soltando palavras soltas no ar
desejando coisas, planejando tempos que viriam queimar
ardia dentro do peito, e também mais abaixo, ainda puro o desejo
e se queria, e se ardia e se podia mais em paz amar
como era puro e doce e entregue o meu amor e o meu amado
se no total não era tanto, no intento era quisto sê-lo
e é disso que se importava e disso que nos fazia sabê-lo
e alimentá-lo, o amor.
ah os olhares maus dos que nos cegam e apagam as estrelas que outrora se a[s]cendiam
as línguas que maldosas encerram e do céu os pontos luz como fogo estranho o brilho lambiam
devassidão do matadouro, inferno sobre o paraíso
nos perdemos entre estrelas
onde foi o meu amor[?]
escondeu-se o meu abrigo
e nas noites tem estrelas
mas não tem o nosso olhar
não tem relva, não tem acalanto
não tem mais você pra amar
[onde sob eu me deitarei sem te lembrar?]



o gozo

goza em mim todo teu prazer
entra em minha pele feito o calor do norte de atlanta
onde o céu é mais azul e o sol é pesado
descasca a pele dourada sobre o mar, o pescador
desliza em mim tua tez suada
finca em mim
e tire antes que chegue no cais pra fazer carnaval
feito serpentinas, fitas de mil tons e vida
o teu sabor ávido leite
vem, deságua [essa porra] em mim

cantiga I

ele quis, ele também
todos os dias sentavam-se ao banco à hora mágica
às vezes diziam tudo
às vezes não falavam nada
tocavam os livros
trocavam os livros
tocavam as mãos
trocavam nas mãos
se perdiam no olhar
dentro um do outro.
era hora de ir
era hora de vir
voar, voar, no ar
chegar, partir
ir e vir, voltar
sentavam-se ao banco também às manhãs
enquanto ainda havia orvalho sobre os sapatos
depois de secos podiam deitar
deitavam junto, lado a lado
olhavam, pouco diziam
comiam, sorriam, partiam
sabendo que amanhã iriam voltar
se chovesse, houvesse sol
haveriam os dois
ele quis, ele também
um dia, num repentino gesto
cansado de esperar
ele se ajoelhou, ele também
disseram sim, selaram, amém
agora eles tem os bancos, os dias e a hora mágica e todas as outras
e quando já é tarde sopra-se o fogo
e em meio ao escuro queimam os dois
[ascende o amor]


terça-feira, 28 de março de 2017

trava-linguas

a língua eleita que sobre mim se deleita
é a mesma língua que me leita depois que me língua?
se a língua que me leita é a que sobre mim se deleita
como é que se deleita enquanto ela me língua?
[e deita]


segunda-feira, 27 de março de 2017

navegações I

às vezes ele se debruçava sobre mim
sentia o frio por dentro
o calor de fora
seu corpo no meu
no meio do breu
meu mundo e o seu
eu era feliz
a pele roçava
tudo ouriçava
ela vinha mansinha
fazia a festa em mim
me estremecia inteiro na espinha
o calafrio bom, o tesão de torcer
tudo acordava, no meio da escuridão que pairava
brilhavam seus olhos nos meus
na noite do meu bem, sorrateira, eu gatuno
minhas mãos procuravam e antes que pudesse ele mesmo encontrava
onde deveria com sede entrar
mas me leitava com mel e rebentos
tornando fácil o seu caminhar
eu sentia bem fundo que ele me descobria
me revelava e se cobria dos pêlos eretos de minha pele ouriçada
querendo entrar mais em mim
assim, numa cadência covalescente
feito barco perdido na enchente desaguando no cais
ora se perdia em mares revoltos
ora velejava céu aberto em meio ao atlântico
eu mergulhado nele, ele totalmente molhado dentro de mim
sobre nós batia o bom cansaço
dormíamos, não sei quem em que braços
mas estávamos dados, atados, linha, anzol
e assim noites remantes remanesciam
e quanto mais se podia cobrir os seus olhos no meu horizonte
mais mergulhava de si dentro de mim
e então se perdia eu nele e ele cada vez mais num adentro sem fim
perdidos, vagueantes, sob águas caudalosas em zonas abissais
onde ele sentia que podia
sem medo mergulhava onde nunca mais achava seu rumo, ter paz
ali ficaria pra sempre marinheiro
ser doce, perdido e combalido
suspirando e gozando no peito de [seu] amor





domingo, 26 de março de 2017

eu sentia frio e ele me lambeu
eu virei um rio, ele me cruzou
meu D'us que calafrio... ele me ganhou!


sábado, 25 de março de 2017

descansa a tua boca sobre a minha

quinta-feira, 23 de março de 2017

saudade V

que saudade de olhar em teus olhos
de ver teu sorriso que fazia tua cabeça parecer maior
meu coração palpitava e eu sorria por dentro
beijava escondido tua boca e chupando sua língua sentia o gosto do teu dia
te abraçava, te sentia, e consumia a vontade crescente de te amar
enquanto era inesgotável o desejo de te ter e ser mais e mais
o desejo sob a roupa crescia
e roçando rubrava a pele que aquecia
e febril de tesão e desejo
numa entrega sem ter paz
até estar totalmente um
nuns sob o céu, entre as estrelas


quinta-feira, 16 de março de 2017

pelos poros

pessoas vem e vão
bocas vem e vão
estações vem e vão
e o tempo passando num sentido infinito

algumas coisas são tão transitórias
quero transitar em teu corpo
quarto adentro
descobrir teu segredo
descobrir teu beijo [com a língua]
descobrir teu desejo [com a boca]
e no mais profundo de mim ter você
me penetra

contratempos...

outra vez é quinta
outra vez é saudade
outra vez é a lembrança que vem e me beija
é o pensamento que me deixa e viaja pra trás
e me traz a lembrança do que você fez
do que eu fiz
do que juntos fizemos
e o quanto transamos sonhos, beijos, planos entre juras e estrelas
entretelados pelo tempo, no vento

me vem à lembrança o que podemos quando queremos
o quanto nós temos quando desejamos e até onde podemos ir
é necessário viver com coragem
é mister! é desejo mas também é sincero, é sobre permanecer...
é sobre onde entregar o coração...
em lugares vacilantes e acidentados há precipitações
os caminhos aplanados, numa visão reta
sobre este caminho é bom achar descanso
ali a terra é fértil, o coração floresce e o cálice trasborda
minha alma tem sede e se apega ao amor
beije-me ele.

quinta-feira, 9 de março de 2017

saudade

que saudade que eu sinto
sinto saudade de seu corpo
do seu braço e seu abraço
da sua boca e como ela me beijava
                         {faminta}
das suas mãos e de como me tomavam
feito tua ama, tua puta, tua escrava
e tinha prazer em mim e dele gozava de ti
me enchia de aperto
como quem tenta segurar a areia com força entre as mãos
me jogava na cama e caidos sobre o outro
pesava e mantinha meus pés no chão
eu me abria e sabia que queria dentro de mim
seu pau, sua língua, sua vida
de tudo enfim
saudade, que eu sinto.

quinta-feira, 2 de março de 2017

rasgos entre as respirações

...não parei de olhar sua boca por um minuto...






quarta-feira, 1 de março de 2017

recortes noturnos

estamos só confabulando
mas acho que tá tudo cruzado.


queria cruzar a gente
as pernas
seus pelos nos meus dentes.



queria lamber seu corpo
na janela.



correr minha mao em suas coxas grossas
hora devagar, hora afundando na carne
marcando na brancura de sua pele a minha fome.